titulo: A metapsicologia e a explicação psicanalítica das psicoses: o caso da "linguagem de órgão" esquizofrênica.

 

Justificacao: A metapsicologia e a explicação psicanalítica das psicoses: o caso da "linguagem de órgão" esquizofrênica.

 

Ao longo dos artigos metapsicológicos de 1915, Freud se pergunta em que consistiria a diferenciação entre a representação consciente e a inconsciente, se esta corresponderia a uma distinção "tópica" ou se corresponderia a uma distinção "funcional". Ele tende, na maior parte do texto, a aceitar a segunda hipótese, assim como o faz no capítulo 7 de "A interpretação dos sonhos", mas acaba optando por uma terceira, na última seção do artigo metapsicológico sobre o inconsciente. Nesse texto, ele conclui, a partir da observação das neuroses narcísicas, que, enquanto a "representação-objeto" consciente abrange a representacão-coisa mais a representação-palavra correspondente, a representação inconsciente se restringe apenas à representação-coisa. As representações-palavra, ao se constituirem, sobreinvestiriam parte das representações-coisa e, como resultado desse sobreinvestimento, a excitação em estado livre seria ligada, ou seja, o processo primário seria parcialmente substituído pelo processo secundário. Sendo assim, as representações que não fossem associadas a palavras permaneceriam insuscetíveis de se tornarem conscientes e permaneceriam regidas pelo processo primário, enquanto que aquelas que fossem associadas a palavras se tornariam suscetíveis de consciência e passariam a integrar os processos psíquicos secundários. As primeiras constituiriam o sistema inconsciente e as segundas, o sistema pré-consciente. Freud explica a esquizofrenia a partir dessas hipóteses. Segundo ele, na fase inicial desta patologia, haveria uma retirada do investimento tanto das representações-objeto conscientes como das representações-coisa inconscientes. Ambos os sistemas inconsciente e pré-consciente seriam desinvestidos e o investimento retirado seria direcionado ao eu, o que teria como conseqüência a reinstauração de um estado de narcisismo primitivo. Numa segunda etapa da doença, o eu tentaria retomar os investimentos de objeto e o faria investindo em primeiro lugar as representações-palavra para, por meio destas, alcançar as representações-coisa. Nessa fase da doença em que as representações-palavra estariam investidas mas as representações-coisa não, a referência aos orgãos e às inervações corporais passaria para primeiro plano na linguagem esquizofrênica. Esta se tornaria "linguagem de órgão", como diz Freud. Apenas a partir do artigo metapsicológico sobre o inconsciente, não é possível compreender por que na ausência do investimento das representações-coisa, as palavras passam a se referir diretamente ao corporal. Tal questão, no entanto, pode ser esclarecida a partir de dois textos inaugurais do pensamento freudiano : "Sobre a concepção das afasias" (1891) e "Projeto de uma psicologia" (1895). O objetivo dessa comunicação é discutir a hipótese sobre a significação das palavras e dos objetos apresentada por Freud nesses dois textos e comentar de que forma tal hipótese torna compreensível essa peculiaridade da linguagem esquizofrênica.