titulo: A realidade como questão em Heidegger e Winnicott.

 

Justificacao:   Ao longo do tratado "Ser e Tempo" (1927), na medida em que executa a tarefa de destruição das categorias ontológicas tradicionais, Heidegger aponta o quanto o ser tradicionalmente foi pensado enquanto presença constante (Anwesen). Mais especificamente no § 43, este filósofo denuncia que na metafísica pós-cartesiana o ser recebe o sentido de realidade. A determinação fundamental do ser torna-se substancialidade e o conhecimento intuitivo passa a ser considerado como único modo válido de acesso ao real. Com o intuito de fazer-nos constatar que primordialmente não lidamos com os entes a partir de uma relação teórica, que não é o conhecimento que cria pela primeira vez um commercium do 'sujeito' com o 'mundo', o projeto filosófico de Ser e Tempo estabelecerá primazia ontológica à questão da realidade tendo em mira pensa-la desde a constituição fundamental do Dasein, desde o fenômeno do ser-no-mundo. Pretendemos com este trabalho apontar como em "Ser e Tempo" o problema da realidade é colocado sem recuso tradicional à intuição interna, enfim, não é colocado em moldes metafísicos, mas retomado como problema ontológico na analítica existencial do Dasein. Em tempo, pleiteamos também, indicar o quanto a psicanálise winnicottiana nos lega uma forma não metafísica de entender a experiência humana, na medida em que não a reduz a um campo de relações pulsionais entre objetos internos e externos, em que não entende a representação como única forma de acesso a realidade. Deste modo, a pergunta pelos modos como a natureza humana constitui a realidade, pelo sentido da realidade, assume primazia no pensamento winnicottiano, como no de Heidegger. Pretendemos então, pontuar como na crítica winnicottiana à metapsicologia e na heideggeriana à metafísica o problema da constituição da realidade se impõe como questão necessária.