titulo: O projeto de uma epistemologia naturalizada e a psicanálise

Justificacao:   O projeto de uma epistemologia naturalizada e a psicanálise
A psicanálise é uma ciência, ou a psicanálise não é uma ciência. Muitos psicanalistas e filósofos tem se dedicado a analisar este enunciado. Popper ao defender o critério de refutabilidade como demarcatório entre as teorias cientificas e não científicas irá sustentar que a teoria psicanalítica é irrefutável e portanto não alcança status científico. A falta de instâncias falseadoras e de verificação das hipóteses psicoanalíticas sugere, aos olhos de Popper a fraqueza e a inconsistência da teoria psicanalítica No entanto, modelos epistemológicos contemporâneos nos mostram que não há critérios de demarcação pontual de hipóteses (nem a verificação, nem a confirmação ,nem a refutabilidade), porque não há comparação nem aplicação de hipóteses isoladas. O fato de uma mesma hipótese não poder ser refutada por nenhum dos quaisquer acontecimentos possíveis , não desqualifica a hipótese por ela mesma. Isso está presente na tese de Duhem-Quine, que dirá que as hipóteses não se contrastam isoladamente e sim como conjuntos orgânicos de hipóteses com suas respectivas hipóteses auxiliares. Assim, uma hipótese deve ser tratada no conjunto de uma explicação científica ,dependendo de outras hipóteses não arbitrárias e holisticamente produtivas intervindo no processo. Isso tem valor tanto para as hipóteses em geral como para as aplicações particularizadas a casos determinados,como na psicanálise O holismo semântico quiniano apresenta-se então, como uma proposta interessante na formulação do quadro epistemológico da psicanálise. E mesmo, afirmando-se, com razão, que a psicanálise não é uma ciência no sentido estrito, não resta dúvida que é uma conseqüência do discurso científico, que supõe uma dimensão lógica a ordenar este discurso, com todo o aparato conceitual e doutrinal de uma ciência. O projeto epistemológico de Quine tem como finalidade a compreensão da ciência.Seu projeto é empirista mas trata os resultados científicos no próprio interior das ciências constituídas Quine afirma que não há base mais firme para uma reflexão sobre a ciência do que ela mesma e que somos livres para utilizar os resultados de uma ciência quando investigamos suas “raízes” . A essa epistemologia não fundacional reintegrada às ciências da natureza, dá o nome de epistemologia naturalizada A partir de uma convicção, que é lingüística, as teses analíticas afetam todas as antigas posições teóricas, situando-se na contramão das teses positivistas, caracterizando-se como pós positivista e anti verificacionista. Quine apresenta seus pressupostos teóricos no texto “Dois dogmas do empirismo” onde critica a distinção entre as verdades "analíticas" e as “sintéticas”, depois de engenhosas discussões – que passam pelas noções de sinonímia, definição, permutabilidade e regras semânticas - para ver se é claramente determinável em que consiste a analiticidade, para que então se distingam quais enunciados são analíticos e concluir que, uma fronteira entre os enunciados analíticos e sintéticos ainda não foi traçada. que se não se podem distinguir as proposições cujo componente fático é nulo, isto implica que não se pode distinguir precisamente entre o "componente lingüístico" (significado) e o "componente fático" (fato) em nenhuma proposição. Rejeitar a distinção "analítico-sintético", equivale a rejeitar a distinção "significado-fato" e, portanto, a distinção "teoria-observação". A revisão do sentido da analiticidade é a versão quineana de que as observações sempre estão "carregadas de teoria". Sua resposta virá na forma do holismo semântico. O reducionismos radical é o segundo dogma criticado por Quine e sustenta que "toda proposição com significado" é "traduzível a uma proposição (v ou f) acerca da experiência imediata". No entanto, como tais proposições tratam do “mundo físico”, seriam, segundo o "dogma" da analiticidade, sempre "sintéticas". A idéia é que "cada proposição sintética", se verdadeira, estaria associada a um único conjunto de possíveis eventos sensórios". Tendo em vista o holismo quineano, o postulado reducionista supõe a "teoria verificacionista do significado", onde a verdade de uma proposição sobre o mundo físico a faz corresponder a uma experiência definida. Quine conclui assim que não é possível verificar cada proposição sobre o "mundo físico" de maneira isolada. Se antes a condição para decidir sobre a verdade ou falsidade de uma proposição era a proposição mesma, , agora, "a unidade de relevância empírica é o todo da ciência”.Afinada com o holismo, a epistemologia quineana está além da tarefa de descrever a natureza; sua epistemologia está na natureza assim como a autocorreção e inovação no curso da interpretação dos casos clínicos mostram a psicanálise como um corpus teórico orgânico.