titulo: Mudanças no conceitos de ansiedade nos séculos XIX e XX: Da neurose de angústia ao DSM-IV

Justificacao:   A ansiedade tem sido objeto de interesse do pensamento ocidental há séculos, com profundas raízes tanto na tradição filosófica quanto médica. Enquanto quadros patológicos, os chamados “estados ansiosos” adquiriram proeminência na psiquiatria com os trabalhos de Sigmund Freud. Ao estudar a ansiedade clínica, Freud separou a neurose de ansiedade (ou “neurose de angústia”) da neurastenia, e a ansiedade crônica, dos ataques de ansiedade. Embora as classificações clínicas propostas pela psicanálise tenham sido relativamente bem aceitas no meio psiquiátrico até a primeira metade do século XX, nas décadas que se seguiram alguns fatores contribuíram para orientar o curso da psiquiatria em direção à biologia, dentre estes se destacam os avanços na área da psicofarmacologia. Com a chamada revolução psicofarmacológica, que tem seu início a partir da década de 60, tem-se o surgimento das abordagens nosográficas “operacionais” em psiquiatria, que permanecem até os nossos dias, caracterizando nossa época. Surgem, a partir daí, sistemas classificatórios padronizados como o DSM-III (Diagnostic Statiscal Manual of Mental Disorders, em sua terceira versão), que irão inaugurar uma nova era de relações entre a psiquiatria e a psicopatologia, muito embora os modelos explicativos imanentes a estes sistemas nem sempre encontrem-se explícitos. O nascimento do transtorno do pânico enquanto categoria nosográfica está intimamente ligado a esta mudança de perspectiva, tendo em vista que se dá a partir da observação dos efeitos terapêuticos de uma droga, a imipramina, sobre alguns dos sintomas do quadro clínico. Nesse sentido, o objetivo geral do presente trabalho será examinar criticamente, sob o ponto de vista epistemológico, os conceitos de ansiedade vigentes na psiquiatria e psicologia a partir da segunda metade do século XIX até a criação do DSM-IV, dando ênfase aos possíveis modelos teóricos encontrados subjacentes às diferentes concepções. Em uma primeira etapa, o trabalho focalizará essencialmente o momento histórico fundamental da construção do diagnóstico de “neurose de angústia” por Sigmund Freud. Serão discutidas questões relativas às transformações sofridas por esta entidade nosológica, tanto segundo um critério diagnóstico quanto conceitual, a partir de uma análise dos principais textos de Freud sobre o tema. Em um segundo momento do trabalho, será dada atenção especial ao estudo da evolução histórica daquilo que os manuais de diagnóstico psiquiátrico têm chamado de “distúrbios” ou “transtornos de ansiedade”, dando ênfase à reorganização radical que esses novos sistemas classificatórios impuseram à compreensão dos fenômenos ansiosos.