Título: Conexões
entre psicanálise e literatura
Autor: Prof. Dr. Francisco Verardi Bocca Professor de Ética e História da Filosofia Contemporânea do Programa de Mestrado em Filosofia - PUCPR RESUMO: A intenção do artigo a ser
apresentado em comunicação é a de reunir os resultados de uma pesquisa em
andamento que promove, de um modo geral, a relação e estabelece vasos comunicantes
entre a pesquisa filosófica da psicanálise e a literatura, e de modo
particular, aplica alguns conceitos de Sigmund Freud sobre a obra Dom
Casmurro de Machado de Assis, tomando-a como objeto de análise e
reconhecimento do funcionamento psíquico. O leitor atento de Dom Casmurro percebe sem dificuldade que o depoimento narrativo de Bento explicita um problema de identidade e de autoconhecimento, uma reflexão sobre si mesmo, cuja finalidade parece-nos ser a de promover uma sutura em relação ao seu próprio eu, como todos sabem, dilacerado pela dúvida acerca da suposta traição que atravessa o relato. Daí sua necessidade de partilhar com o leitor intimidades, visando uma reconstrução de sua própria imagem no julgamento desse. Circunstância que nos encoraja a prosseguir na análise de seu relato oferecendo elementos para que o leitor de Machado possa contribuir com seu julgamento. Nossa
aplicação tem como suporte teórico, além da própria obra citada de Machado,
justamente pela temática que comportam, os seguintes textos de Freud,
“Delírios e sonhos na Gradiva de
Jensen”, de 1907, “Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do
amor”, de 1912, além de “Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranóia e
no homossexualismo”, de 1922. Toma ainda como apoio a obra de Luiz Carlos
Pinheiro de Freitas, “Freud e Machado de Assis – uma interseção entre
psicanálise e literatura”, de 2001, da qual extraímos inspiração e
conhecimentos. Por
ora, anunciaremos nossas teses para, no decorrer da comunicação, explicitarmos
sua justificativa. Assim, apoiados nas teses de Freud, sustentamos que Bento
adoece, de um evidente progressivo delírio de ciúme, justamente para
permanecer fiel à sua esposa. Assim, a construção psíquica de sua suspeita de
ter sido traído teria sido a forma encontrada de não realizar a traição, de
não reconhecer nem exercer seu amor por Escobar, o que conseguiu, segundo
Freud, pois “tornando-se consciente da infidelidade dela, e ampliando-a,
mantinha a sua inconsciente” (p.241, 1922). Para isso precisou admitir
impulsos de traição também em Capitu. Isso posto, a construção de seu sintoma
foi possível levando-se em conta o
conhecimento que cada neurótico tem do inconsciente do outro. Sustentamos assim, e talvez só aqui
resida algum tipo de originalidade de nossa parte, que Capitolina de fato,
mesmo que apenas inconscientemente, correspondia de algum modo ao julgamento
de Bento que interpretava, como dissemos, seu inconsciente. Perseguiremos
essa pista apoiados na tese freudiana
“do anseio de atrair da mulher
casada” (p.238, 1922), cujo reconhecimento e identificação em sua conduta a
todos passava despercebido, menos a Bento. Sendo assim, nossa análise permite
concluir que ambos foram vítimas, ela como salvaguarda contra a infidelidade
real do marido, bem como de suas escolhas amorosas, enquanto ele pagou com a
neurose, precipitando-se no sintoma e mantendo-se em seu interior ao longo da
vida. Por fim, o propósito de tal
análise, justificados em Freud, fica sendo o de mostrar que a análise de
obras de autores criativos podem, e porque o fazem, permitir acesso à
compreensão de mecanismos de funcionamento mental do homem. PALAVRAS-CHAVE: Filosofia; Literatura;
Psicanálise; Ciúme. |