Encontro ANPOF, Salvador, Bahia, outubro de 2004

 

Sobre a crítica heideggeriana à psicanálise de Freud

 

 

João Paulo F. Barretta

Doutorando

Orientador: Zeljko Loparic

Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica, PUCSP

GT Filosofia e Psicanálise

Resumo:

Este trabalho tem como objetivo explicitar a crítica de Heidegger à psicanálise freudiana, mostrando que. Heidegger visa identificar e desconstruir a metafísica pressuposta por Freud, e apresentar um novo projeto (novos fundamentos filosóficos) a partir do qual a psicanálise deverá ser reconstruída. A reflexão heideggeriana parte da concepção de que toda ciência pressupõe uma abertura prévia de uma região dos entes,  uma ontologia, que resulta de uma certa compreensão do ser – a parte teórico-filosófica de toda ciência. Contudo, uma vez que as ontologias pressupostas podem ser adequadas ou não ao ser que pretendem expor, a questão decisiva, no caso especifico da psicanálise, é se a metafísica da subjetividade e a metafísica da natureza são os fundamentos adequados para uma ciência do homem. A resposta de Heidegger é: não. Segundo esse pensador, há que se diferenciar radicalmente entre dois modos de ser: a subsistência (Vorhandensein), própria das coisas intramundanas, objetificadas e reconhecidas pela metafísica tradicional; e a existência (Dasein), própria dos seres humanos, trazida à luz inicialmente pela analítica existencial de Ser e Tempo. Portanto, é somente a partir desta analítica da existência, ou seja, da hermenêutica do Dasein que se pode fundar o projeto de uma ciência do homem adequada ao seu modo de ser. A importância dessa crítica está no fato de ela, por um lado, identificar as heranças metafísicas da psicanálise freudiana – que condicionam uma certa maneira de ver, compreender e operar com os fenômenos clínicos – e, por outro, apontar para os fundamentos de uma ciência do homem inteiramente nova, a partir dos quais uma profunda reformulação em diferentes campos do conhecimento, entre eles o da psicanálise, deverá acontecer.